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17/12/2013

A VIDA E A FÉ, E A MORTE



“Da vida, a fé é a própria crença em si e em cores de ser objeto de quem a sustenta, ou seja, é   onipotência independente, e tal como força suprema que incide sobre quem a invoca, por achar-se  merecedor, como fruto do seu trabalho, posto que a vida nada oferece, por ser objeto de alcance e não de barganha: achar-se merecedor é conquistar a fé, com esforço mental, ou  agarrá-la braçalmente; ou se corre atrás da vida, com tudo que ela carregue, ou se perde das duas.  Chega a morte em duas cores e oferece tudo que tenha, mas depois de retirar o branco. Eis nada para a história, resta o fracasso do homem”.

13/12/2013

MEUS VOTOS PARA O NATAL

FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO A TODOS! 
QUE NO ANO VINDOURO  SE POSSA DESFRUTAR DE DIGNIDADE, COMO SAÚDE PÚBLICA, SEGURANÇA,  PROBIDADE...


"O meu agreste  sem água é um mar morto,

Beira à peste, e o olhar sem mágoa, no ar torto

É clamor dum povo, de abundância prometida,

À espera do novo ou da ambulância da partida".



 

 
Obrigado.


















www.youtube.com/watch?v=zrB1i332J0s


























































09/12/2013

COMO CARTA DA SUA PARTEIRA AO CANTOR REGINALDO ROSSI


POR QUE ALGUMAS PESSOAS AMADAS CARECEM DE MAIS PRUDÊNCIA

(Como carta da sua parteira ao cantor Reginaldo Rossi)

Por mim, aquele menino que queria ser cantor e ficava a te admirar, tu de camisa azul clara de mangas longas caídas e desabotoadas nos punhos, recebendo a gravidade de uma bolsa marrom,  a tiracolo,  na porta da velha TV TUPI, início dos anos setenta).

 By J. M. Monteiraso

Ao nascermos, somos anjos,  recebidos de bruços,  como quisessem ver as pontas das nossas asas.

Mas logo nos lascam uma palmada nas nádegas arroxeadas, só por nos verem chorar, como se anjos chorassem.  A palmada, por vezes vem-nos tão forte, como se o obstetra, ou parteira, achassem que somos super-heróis.

Acontece que choramos, pois não somos anjos celestiais, mas, sim, ainda terráqueos.  Ainda, porque alguns ascenderão ainda em vida, enquanto outros, possivelmente,  após a morte, saliente-se.

Salientar significa tornar saliente, ou tornar-se tal. Claro que neste caso, uns tornam-se mesmo salientes: se lhes batem seguida do imperativo ‘chora!’, eles choram, só pra não apanhar mais. Se lhes batem seguido do vocativo ‘canta nenê!’, eles de tão salientes fazem a todos sorrir, assim: neste corpo meigo e tão pequeno, há uma espécie de veneno, tão gostoso e provar...

E o tempo passa, o menino vai crescendo, diz-se quente, acha-se um pão (gato), exige doutros deixar de banca, afirma que não presta mas sabe amar, ama a namorada do amigo, fica meio valentão... mas surge com estes versos: Ah! Que tristeza dá relembrar o dia em que a alegria me disse adeus.

Pudesse estar aí, agora, dar-te-ia  primeiramente uma palmada neste bumbum em repouso, depois um abraço, primeiramente raivoso, como a punir-te pelas imprudências, depois mais um aperto,  gostoso, por teu retorno ao convívio de quem te ama.

Algumas pessoas amadas carecem de mais prudência porque mesmo com tanto carinho que recebem mundo afora, desconhecem o segredo do cofre desses que lhes querem bem.

Toma juízo, meu garoto saliente!  Não precisas agir assim,  ganhar colo e comidinha numa cama de UTI é, neste momento, relevante; embora saibas, é bom reiterar que és amado e por isso tens o dever da prudência e a sabedoria de que teu íntimo não machucará a alma dos teus fiéis.

Vieste ao mundo para cantar e alegrar, ser saliente sem ser imprudente. A culpa é da nossa sociedade e logo também tua se não estás de pé, agora,  para receberes a louvação do teu auditório.  Reflete e volta, amanhã, com como o encanto dos recém nascidos, sem os vícios dos adultos, porque até esta velha tua parteira estará ao teu lado. Com a graça de Deus.

Volta e refaz a letra daquela canção: toda a alegria que eu sinto agora só pôde acontecer porque a felicidade trouxera quem me  ama ainda mais pra mais de mim:  o público.

Abraço, amigo.

................................................................................................................................................................ Pois é, não deu, amigo, o inevitável sempre vence. Descanse em paz. Quem sabe, não viramos mesmo bebês, por nascermos de novo. Descanse em paz!

05/12/2013

HOMENAGEM A NELSON MANDELA


Quando nasci, me assentaram no registro a tal da cor parda, como fingidamente costumava-se chamar as pessoas tidas por negras, mas com algum prestígio local; lá na minha terra, chama-se os mestiços, índios, mulatos de caboclos. Destarte, minha origem paterna é portuguesa e a materna é de uma linda caboclazinha, tupinambá.

Isso porque, século XIX, certo fidalgo, português, de olhos verdes e apaixonado pela terra do pau brasil, montou em seu cavalo e a galope alcançou a mocinha selvagem e pura: conta-se que teve de aprisioná-la por algum tempo, como domando-a, por torná-la esposa, sob a curiosidade dos seus familiares.


O tempo passou e certo dia, num momentâneo desafeto, um coleguinha de colégio me disse: seu negrinho chato! Ofendi-me e bati-lhe na face. (Eu senti vergonha de ser chamado de negro pela primeira vez. Mas sou negro, sim, bisneto daquele cavaleiro fidalgo e daquela meninazinha originalmente brasileira, como Machado de Assis e Castro Alves, por exemplos: do meu bisavô, modéstia à parte, herdei o bom gosto pela literatura e pela poesia, mais tarde também pela filosofia, estas que fluíam no sangue do não menos querido papai — por quem fui iniciado em tal idiossincrasia, mas aos olhos dos infantes incautos, meus amiguinhos perdidos na temporalidade —, e com quem também aprendi a diferenciar pessoa humana de gente e esta de povo, e a questionar; destarte, nem todos são compreendidos): o fato ocorreu porque era aula de História do Brasil, e eu não entendia por que o Cabo da Boa Esperança tinha tal nome, vez que fica na África do Sul que parecia não dar importância à grita dos negros, imperava o Apartheid.

Cresci, também, aos pés de uma estátua de Ruy Barbosa, insigne da minh’alma; decerto, não poderia morrer sem estudar Direito.

Direito é o conjunto de normas jurídicas vigentes em um país, o que chamamos de direito positivo, porque conforme a lei. Resumidamente, direitos são as garantias do cidadão, como o da igualdade racial.

Foi exatamente, usando do meu ainda tímido direito de questionar que me solidarizei com a dor de um homem negro e forte, de músculos e de honra e aspirações: Nelson Mandela, o Xhosa que lutou pelo seu direito magno, o da igualdade racial, e que depois de amargar a prisão e a tortura por vinte e sete anos, tornar-se-ia o Presidente do seu povo, ganharia o Prêmio Nobel da Paz e calaria a boca dos perversos e racistas. 


Morre hoje o cansado corpo, mas fica o legado do homem; sobe ao celestial a sua alma, a ser recebida no salão lilás, com incontáveis mega-tons de acolha e felicidade; sei que dói, mas não chores, vela a pele de quem não se te esfriará, por ser histórica, teu orgulho, ó África do Sul! Assim e em igualdade, o mundo já compartilha e se colore.
 




 December, 05, 2013.  facebook: jmmonteiraso  @dellarquim