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05/12/2013

HOMENAGEM A NELSON MANDELA


Quando nasci, me assentaram no registro a tal da cor parda, como fingidamente costumava-se chamar as pessoas tidas por negras, mas com algum prestígio local; lá na minha terra, chama-se os mestiços, índios, mulatos de caboclos. Destarte, minha origem paterna é portuguesa e a materna é de uma linda caboclazinha, tupinambá.

Isso porque, século XIX, certo fidalgo, português, de olhos verdes e apaixonado pela terra do pau brasil, montou em seu cavalo e a galope alcançou a mocinha selvagem e pura: conta-se que teve de aprisioná-la por algum tempo, como domando-a, por torná-la esposa, sob a curiosidade dos seus familiares.


O tempo passou e certo dia, num momentâneo desafeto, um coleguinha de colégio me disse: seu negrinho chato! Ofendi-me e bati-lhe na face. (Eu senti vergonha de ser chamado de negro pela primeira vez. Mas sou negro, sim, bisneto daquele cavaleiro fidalgo e daquela meninazinha originalmente brasileira, como Machado de Assis e Castro Alves, por exemplos: do meu bisavô, modéstia à parte, herdei o bom gosto pela literatura e pela poesia, mais tarde também pela filosofia, estas que fluíam no sangue do não menos querido papai — por quem fui iniciado em tal idiossincrasia, mas aos olhos dos infantes incautos, meus amiguinhos perdidos na temporalidade —, e com quem também aprendi a diferenciar pessoa humana de gente e esta de povo, e a questionar; destarte, nem todos são compreendidos): o fato ocorreu porque era aula de História do Brasil, e eu não entendia por que o Cabo da Boa Esperança tinha tal nome, vez que fica na África do Sul que parecia não dar importância à grita dos negros, imperava o Apartheid.

Cresci, também, aos pés de uma estátua de Ruy Barbosa, insigne da minh’alma; decerto, não poderia morrer sem estudar Direito.

Direito é o conjunto de normas jurídicas vigentes em um país, o que chamamos de direito positivo, porque conforme a lei. Resumidamente, direitos são as garantias do cidadão, como o da igualdade racial.

Foi exatamente, usando do meu ainda tímido direito de questionar que me solidarizei com a dor de um homem negro e forte, de músculos e de honra e aspirações: Nelson Mandela, o Xhosa que lutou pelo seu direito magno, o da igualdade racial, e que depois de amargar a prisão e a tortura por vinte e sete anos, tornar-se-ia o Presidente do seu povo, ganharia o Prêmio Nobel da Paz e calaria a boca dos perversos e racistas. 


Morre hoje o cansado corpo, mas fica o legado do homem; sobe ao celestial a sua alma, a ser recebida no salão lilás, com incontáveis mega-tons de acolha e felicidade; sei que dói, mas não chores, vela a pele de quem não se te esfriará, por ser histórica, teu orgulho, ó África do Sul! Assim e em igualdade, o mundo já compartilha e se colore.
 




 December, 05, 2013.  facebook: jmmonteiraso  @dellarquim

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