POR QUE ALGUMAS
PESSOAS AMADAS CARECEM DE MAIS PRUDÊNCIA
(Como carta da sua
parteira ao cantor Reginaldo Rossi)
Por mim, aquele menino
que queria ser cantor e ficava a te admirar, tu de camisa azul clara de mangas
longas caídas e desabotoadas nos punhos, recebendo a gravidade de uma bolsa
marrom, a tiracolo, na porta da velha TV TUPI, início dos anos
setenta).
By J. M. Monteiraso
Ao nascermos, somos anjos, recebidos de bruços, como quisessem ver as pontas das nossas asas.
Mas logo nos lascam uma palmada nas
nádegas arroxeadas, só por nos verem chorar, como se anjos chorassem. A palmada, por vezes vem-nos tão forte, como
se o obstetra, ou parteira, achassem que somos super-heróis.
Acontece que choramos, pois não
somos anjos celestiais, mas, sim, ainda terráqueos. Ainda, porque alguns ascenderão ainda em vida,
enquanto outros, possivelmente, após a
morte, saliente-se.
Salientar significa tornar
saliente, ou tornar-se tal. Claro que neste caso, uns tornam-se mesmo salientes:
se lhes batem seguida do imperativo ‘chora!’, eles choram, só pra não apanhar
mais. Se lhes batem seguido do vocativo ‘canta nenê!’, eles de tão salientes
fazem a todos sorrir, assim: neste corpo meigo e tão pequeno, há uma espécie de
veneno, tão gostoso e provar...
E o tempo passa, o menino vai crescendo,
diz-se quente, acha-se um pão (gato), exige doutros deixar de banca, afirma que
não presta mas sabe amar, ama a namorada do amigo, fica meio valentão... mas
surge com estes versos: Ah! Que tristeza dá relembrar o dia em que a alegria me
disse adeus.
Pudesse estar aí, agora, dar-te-ia primeiramente uma palmada neste bumbum em
repouso, depois um abraço, primeiramente raivoso, como a punir-te pelas imprudências,
depois mais um aperto, gostoso, por teu retorno
ao convívio de quem te ama.
Algumas pessoas amadas carecem de mais prudência porque mesmo com tanto carinho que recebem mundo afora, desconhecem
o segredo do cofre desses que lhes querem bem.
Toma juízo, meu garoto
saliente! Não precisas agir assim, ganhar colo e comidinha numa cama de UTI é,
neste momento, relevante; embora saibas, é bom reiterar que és amado e por isso
tens o dever da prudência e a sabedoria de que teu íntimo não machucará a alma
dos teus fiéis.
Vieste ao mundo para cantar e alegrar,
ser saliente sem ser imprudente. A culpa é da nossa sociedade e logo também tua se não estás de pé, agora, para receberes a louvação do teu auditório. Reflete e volta, amanhã, com como o encanto dos recém
nascidos, sem os vícios dos adultos, porque até esta velha tua parteira estará
ao teu lado. Com a graça de Deus.
Volta e refaz a letra daquela
canção: toda a alegria que eu sinto agora só pôde acontecer porque a felicidade trouxera quem me ama ainda mais pra mais de mim: o público.
Abraço, amigo.
................................................................................................................................................................ Pois é, não deu, amigo, o inevitável sempre vence. Descanse em paz. Quem sabe, não viramos mesmo bebês, por nascermos de novo. Descanse em paz!
................................................................................................................................................................ Pois é, não deu, amigo, o inevitável sempre vence. Descanse em paz. Quem sabe, não viramos mesmo bebês, por nascermos de novo. Descanse em paz!
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