A Primavera. Ah! A Primavera!
A melhor estação para andar descalço: mesmo se o trem chegasse e ele não
conseguisse contratar um carreto, voltávamos os dois, ora largados na carroça,
marcando fracamente nos joelhos o tempo e nos corações o andamento da canção da
simplicidade, ora com nossos chinelos de dedo nas mãos, felizes, pisando em flores
orvalhadas, entoando com os pássaros ora notas soltas, ora silenciosos e
agradecidos, enquanto o burro balançava o rabo e trotava, e dançava e dançava,
mesmo com as patas idosas, sem sapatos de ferro. Éramos todos felicidade. Por isso, sentíamos os três o chão oloroso
muito mais que os mais abastados. Eu sempre atento à copa das árvores: ora, apreciando uma, ora, outra e querendo que sua beleza pulasse em mim. Eu era todo flor-de-lis, e com a
nova estação, pássaros deixariam para sempre de ser vítima do meu estilingue.
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Estilingue, coisa do passado; eu cresci, aprendera que não se mata.
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J. M.
Monteirás in DELLARQUIM, p.28
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