"Não será o suor do miserável a fortalecer o sangue do que se comporte com anatocismo, nem da riqueza lídima deste se prevalecerá aquele".
https://leitura.com.br/dellarquim-L030-9788590510819
30/07/2013
12/07/2013
PARA DJALMA SANTOS
COISA DE DEUS - PARA DJALMA SANTOS, COM GRATIDÃO!
(O que vi com os meus próprios olhos)
São Paulo, 12/07/2013
Ver com os próprios olhos não é redundância, mas sim figura de linguagem; aqui, meu estilo de escrita em que exalto o que vi.
Este texto é para quem gosta de futebol, não como torcedor sazonal, mas pela poética da historicidade e a saudade que eles nos deixam. Escrevo em azul porque é a cor celeste.
"Era final do ano de mil novecentos e setenta e seis, eu morava na cidade de São Paulo, mais precisamente no Bairro Ponte Pequena, Rua Porto Seguro, a 300 metros do número 1.000 da Avenida Cruzeiro do Sul, Estádio da CMTC- Companhia Municipal de Transportes Coletivos (mais tarde seria extinta, por ser criada a atual SPTrans), onde as manhãs de domingo se faziam festivas, com o Desafio ao Galo, o imperativo Futebol de Várzea, sob a transmissão da TV Record, entrevistas de Samuel Ferro e narração de Raul Tabajara.
As equipes entraram
em campo, e como se sabe os fogos sempre pareciam convidar também os poucos peixes que
ainda lutavam pela sobrevivência no já adoentado Rio Tietê. Mas o Professor só
estava ali para alguns minutos de apoteose, não por enfrentar o adversário, um
time difícil: jovem e veloz, audacioso e reiterado, querendo a consagração.
Coisa de Deus,
havia mesmo de acontecer logo em frente à cabine do narrador: de repente, a defesa
inteira aberta, só restava o velho lateral direito, que possivelmente não
conseguira avançar na mesma linha imaginária dos seus colegas, por um possível impedimento
dos meninos incautos, o ataque adversário, quando, a bola lhe chegou viva,
saltitante, difícil de ser dominada.
O ponta esquerda
partiu pra cima do professor e o meia igualmente obstou a possibilidade de
recuo ao goleiro.
Então, no ar assim
ecoou:
— Dá um bico pra
arquibancada, Seu Djalma! — muitos bradarem, em coro.
— Joga ela pra além da Neusa! (a fábrica de balas do Canindé). Vai! Vai!— implorei.
E outros:
— Meu Deus! Com ele, não!
E os incrédulos:
— Já era, ficou velho!
— Já era, ficou velho!
Mas que nada, como
esperasse o audacioso e jovem atacante chegar-lhe mais, por uns seis ou cinco
centímetros, talvez, visto que não me lembro de ainda haver tal distância, deu
um leve totozinho nela, com o bico da chuteira do pé direito e, como parecesse
esperar ainda mais, com toda a calma da paz, quando a chuteira do adversário já
parecia ganhar da sua, tocou com o pé esquerdo, por cima do incauto, conduzindo
a sua enamorada, a bola, a inicialmente fazer-lhe a
barba e o bigode, quiçá pela primeira vez, depois a acariciar-lhe o nariz e a testa, por fim a pentear-lhe a cabeleira à Jovem Guarda... para
dormir no peito do seu companheiro que voltava desesperado, pronto por oferecer
a já desnecessária ajuda ao deus Djalma Santos.
Por respeito, tudo se fez
silêncio!"
Ao fim do jogo, a imprensa esperou-o concluir seus gestos para conosco, gratos por sua presença e satisfeitos por mostrar-nos como acaricia-se a bola; e ele, não menos virtuosamente também a atendeu para, depois seguir, olhando pro chão e pisando levemente no cascalho que dava direção a um pequeno ambiente o qual se tinha como vestiário."
Ao fim do jogo, a imprensa esperou-o concluir seus gestos para conosco, gratos por sua presença e satisfeitos por mostrar-nos como acaricia-se a bola; e ele, não menos virtuosamente também a atendeu para, depois seguir, olhando pro chão e pisando levemente no cascalho que dava direção a um pequeno ambiente o qual se tinha como vestiário."
E agora, também é momento de
silêncio, precisamos os adoradores do belo, orarmos por sua breve recuperação.
Amém.
Pois é, amigos, não
lhe oramos pouco, mas é assim, mesmo, Deus sabe o que faz: em 22/07/2013 foi recebido no Céu.
Djalma Santos é considerado o maior lateral direito de todos os tempos. Atuou na Portuguesa, Palmeiras e Atlético Paranaense. Óbvio, campeão e bicampeão pela Seleção Canarinho em 1958 e 1962.
Agradeço muito a quem lê e compartilha meus textos.
J. M. Monteiraso, 2013. Todos os direitos reservados. @dellarquim jmmonteiraso@blogsopot.com.br
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